sábado, 3 de maio de 2008

TUDO É RELATIVO!!!

-” Tudo é relativo!” Exclamou vitorioso o aluno ao terminar de expor sua brilhante idéia acerca da relatividade no mundo da moral.
Naquele momento sorri, pensei em como aquela idéia apresentada pelo meu estimado aluno não era em nada nova (apesar dele ter achado que era inovadora sua resposta ) mas sim de um pensador chamado Augusto Comte ( 1798 – 1857) e como a sua influência através do tempo tinha viajado até aquela terça-feira chuvosa .
Comte, filósofo francês, fundou a sociologia científica, além de cunhar o termo “sociologia” também pretendia estabelecer uma moral científica, mas faleceu antes disso.
Segundo próprio Comte:” ...Para esse fim, minha filha, deveis renunciar, em primeiro lugar, a toda pretensão de unidade absoluta, exterior, em uma palavra, objetiva; o que vos será mais fácil do que a nossos doutores. Semelhante aspiração, compatível com a pesquisa das causas, torna-se contraditória com o estudo das leis, isto é, das relações constantes apanhadas no meio de uma diversidade imensa. Essas não comportam senão uma unidade puramente relativa, humana, em uma palavra, subjetiva.”
Depois deste breve momento de reminiscência Comteana, tive que perguntar a meu querido aluno a pergunta que adoraria fazer a Comte:
- “Mas isso não seria um absoluto?”
A questão da relatividade tão em moda nos tempos atuais nos leva a uma falha filosófica , a questão da não-contradição. A não-contradição é a premissa de que um postulado não deve contradizer aquilo que se propõe dizer. Parece confuso? Eis um exemplo:
“Tudo é relativo.” Este postulado em si é um absoluto, ou seja, a partir deste dogma as coisas se tornam relativas...menos ela! Porém se eu afirmar que inclusive este dogma é relativo, então teremos que conviver com a relatividade da relatividade, que gera assim outra relatividade, que nos leva a um regresso infinito!
Saiamos desta esfera filosófica que deve estar te confundindo e vamos para um exemplo mais cotidiano. Lembro-me uma vez de assistir à aula de um professor na faculdade de história a convite de minha mãe. Depois de duas aulas expondo sua posição a favor de um “homem acima do bem e do mal” e de que a concepção de regras de conduta, principalmente a cristã, era um aprisionamento do super-homem contido em cada um de nós e depois de falar várias vezes que “Deus está morto”, fui até ele para tirar algumas dúvidas...
- “Deus está morto” e a idéia de übermensch ( homem que, livre das amarras morais cristãs, teria condições de a partir de seu próprio “eu” definir o que seria o bem e o mal, estando assim acima de qualquer conceito ético ) são idéias de Nietzsche, certo?
-Exatamente! Respondeu-me o caro colega.
- Nietzsche era, de certa forma, adepto da filosofia de Schopenhauer, certo? Perguntei.
- Muito bem. Respondeu-me novamente o professor.
- Então, já que segundo Nietzsche não há um Deus para me julgar e já que as condutas éticas partem do meu “eu” acima do bem e do mal, acho que tenho o dever de ir até a sua casa e matar a sua filhinha ( minha mãe tinha me dito que ele tinha uma bela garotinha com meses de vida ) pois segundo Schopenhauer toda vida é sofrimento e, segundo meu “eu” sua filha está viva, logo, sofre...
O professor me olhou por alguns segundos, e então me respondeu:
- Mas ai não...né?
Bom, notei que ele não era tão nietzschiniano assim...nem que seu relativismo era tão absoluto quando colocava sua filhinha em questão. Mas a verdade é que quando nossos direitos estão em risco deixamos de ser relativistas e gritamos a plenos pulmões regras, leis e normas para salvaguardar o que nos cabe. A idéia de relatividade pode até ser muito bonita no papel, mas para mantermos o mínimo de coerência existencial precisamos de regras de conduta hierarquicamente ordenadas para manter um pouco de ordem social. Basta lembrar que o ápice nietzschiniano relativista existencialista fora personificado na pessoa de Hitler...
Será que o holocausto foi relativo?

8 comentários:

errera disse...

muito bom em Daniel

Unknown disse...

Gostei, Medeiros.
Parabéns.

Anônimo disse...

Tudo é relativo!!!
Interessantíssima essa idéia, ao longo do tempo ela veio não somente para tirar a responsabilidade de um povo que foge não se sabe para onde e nem porque, mas nos das atuais para tirar também a responsabilidade daquelas pessoas que são desprovidas da capacidade de aceitar, pensar e mudar.
Uma frase antiga mas que hoje tenho vista muito atuante no trabalho, estudos e vida social,como o texto citado foi feliz em dizer que: "mas aí não né?" é isso qe tenho visto hoje em dia, pessoas que defendem certos pontos de vista até que sua privacidade, interesse ou objetivo seja invadido.
Sempre é bom lembrarmos que em todas as áreas de nossa vida sofremos com esses tipos de pensamentos e que de certa forma ele abre portas para pensamentos que vão além de regras e leis impostas para o bom funcionamento em sociedade.
"A minha liberdade e privacidade vão até onde começam as do meu próximo" na minha opinião essa frase levada ao pé da letra já evitaria muitas contendas em todas as áreas de nossas vidas e deixaria o relativismo um pouco de lado, é de se pensar não é?
Abraços...

Anônimo disse...

Muito bem colocada a refutação da idéia de que "Tudo é relativo".
Interessante perceber como existencialismo tira nosso conceito do que é a Verdade e legitima toda e qualquer aberração/brutalidade humana; e o que é melhor, sem culpa!
Ótimo artigo. Parabéns!

Anônimo disse...

É... Dani!
O pecado não é relativo, é universal e real!
"Não anulo a graça de Deus, piis se a justi´ça é mediante a lei, segue-se que Cristo morreu em vão!" Gálatas 2:21
Abç!!
Liginha
http://batistainfantil.blogspot.com

Anônimo disse...

OI Medeiros,

puxa que bom que voce ensinou tao claro essa contradicao da relatividade absoluta... Nas ultimas duas semanas disutimos um pouco sobre este téma na juventude aqui em Stuttgart-Feuerbach.
Abracos
Rouven

Jéssica Gobbi disse...

Tiiu Daniii
muitoo bom o texto, o jeito como se expressa.^^

Beijaoo fik com Deus.!

Anônimo disse...

Achei interessante a colocação de Comte sobre as leis, que são formuladas através do conhecimento das relações constantes de uma sociedade tao diversificada como a nossa, em que a grande maioria das pessoas pensa unica e exclusivamente em si mesmo, ou como o próprio Comte disse em uma palavra: "Subjetiva"