Na mitologia grega encontramos o curioso relato do mito de Prometeu. Ele roubou o fogo dos deuses para entregá-lo aos seres humanos. Por isso, sofreu um castigo terrível: foi acorrentado a um rochedo para ter seu fígado comido por um pássaro. Como o fígado é um órgão com capacidades regenerativas seu castigo jamais chegava ao fim.
Você, caro leitor, que está lendo este texto e chegou até aqui se perguntando sobre o título do mesmo tem seus afazeres e ambições: trabalhar, estudar, planejar, fazer exercícios, cumprir com seus deveres cívicos, tirar carta de motorista, comprar um carro, ler, fazer, viver... E se tornar assim um cidadão mais funcional, mais civilizado.
Mas de que vale civilidade sem reflexão?
Este mito traz uma análise interessante para nós, agentes morais hipermodernos: Para os gregos o fogo era justamente a essência da formação da sociedade, simbolizando a luz do conhecimento. A partir do momento em que subjugamos o poder do fogo pudemos cozer, nos aquecer, nos proteger de bichos peçonhentos e então tivemos tempo para desenvolver um conceito de sociedade. Mas com esta facilidade, segundo os gregos, seríamos “castigados” também com um pássaro comendo nossas vísceras. Para os gregos o fígado era o centro da emoção ( o cérebro era um “ar condicionado” para manter nosso corpo com a temperatura certa e o coração seria o centro do entendimento – é por isso que em inglês memorizar até hoje é “to know by heart” – saber “de coração”).
A civilidade e a vida social intensa, principalmente como nos dias de hoje, nos “acorrenta” a tantas novidades e a tanto agir que simplesmente paramos de refletir – no termo radical da palavra – repensar, reconsiderar, perceber, que tanta artificialidade nos torna insensíveis.
Estamos como Prometeu, acorrentados e perdendo a capacidade de notar o próximo e até mesmo de sentir... Como explicar seres tão modernos e tão civilizados que são capazes de queimar um índio por brincadeira, de surrar uma mulher em um ponto de ônibus e dizer que achava que era “apenas uma prostituta”, espancar uma colega e filmar para depois colocar em um site de relacionamentos apenas para ter seus cinco minutos de fama, matar os próprios pais por dinheiro, arrastar uma criança e até mesmo atirar por uma janela uma pequenina indefesa e ainda assim assistir a tudo passivamente de nossas tevês?
Refletir é repensar, é rever um conceito através de um ângulo outro que o oferecido pela maioria. Em uma sociedade tão voltada para o hiperconsumismo me vem à mente Jesus dizendo: “Olhai os lírios dos campos”. Será que toda a minha vida corrida não tem me feito perder a capacidade de ver a beleza frágil de uma flor? O esplendor de sua pequenez e o perfume imaculado que só uma pequena e insignificante flor tem? Quando foi a última vez que olhei para as estrelas, que sentei sem ter que fazer algo a não ser apreciar a criação? Quando foi a última vez que notei a pessoa ao meu lado?
O tempo passa, o pássaro continua comendo nossas vísceras e, sem uma sociedade capaz de refletir sobre os pressupostos essenciais adequados, os lírios continuarão murchando sem percebermos...
Você, caro leitor, que está lendo este texto e chegou até aqui se perguntando sobre o título do mesmo tem seus afazeres e ambições: trabalhar, estudar, planejar, fazer exercícios, cumprir com seus deveres cívicos, tirar carta de motorista, comprar um carro, ler, fazer, viver... E se tornar assim um cidadão mais funcional, mais civilizado.
Mas de que vale civilidade sem reflexão?
Este mito traz uma análise interessante para nós, agentes morais hipermodernos: Para os gregos o fogo era justamente a essência da formação da sociedade, simbolizando a luz do conhecimento. A partir do momento em que subjugamos o poder do fogo pudemos cozer, nos aquecer, nos proteger de bichos peçonhentos e então tivemos tempo para desenvolver um conceito de sociedade. Mas com esta facilidade, segundo os gregos, seríamos “castigados” também com um pássaro comendo nossas vísceras. Para os gregos o fígado era o centro da emoção ( o cérebro era um “ar condicionado” para manter nosso corpo com a temperatura certa e o coração seria o centro do entendimento – é por isso que em inglês memorizar até hoje é “to know by heart” – saber “de coração”).
A civilidade e a vida social intensa, principalmente como nos dias de hoje, nos “acorrenta” a tantas novidades e a tanto agir que simplesmente paramos de refletir – no termo radical da palavra – repensar, reconsiderar, perceber, que tanta artificialidade nos torna insensíveis.
Estamos como Prometeu, acorrentados e perdendo a capacidade de notar o próximo e até mesmo de sentir... Como explicar seres tão modernos e tão civilizados que são capazes de queimar um índio por brincadeira, de surrar uma mulher em um ponto de ônibus e dizer que achava que era “apenas uma prostituta”, espancar uma colega e filmar para depois colocar em um site de relacionamentos apenas para ter seus cinco minutos de fama, matar os próprios pais por dinheiro, arrastar uma criança e até mesmo atirar por uma janela uma pequenina indefesa e ainda assim assistir a tudo passivamente de nossas tevês?
Refletir é repensar, é rever um conceito através de um ângulo outro que o oferecido pela maioria. Em uma sociedade tão voltada para o hiperconsumismo me vem à mente Jesus dizendo: “Olhai os lírios dos campos”. Será que toda a minha vida corrida não tem me feito perder a capacidade de ver a beleza frágil de uma flor? O esplendor de sua pequenez e o perfume imaculado que só uma pequena e insignificante flor tem? Quando foi a última vez que olhei para as estrelas, que sentei sem ter que fazer algo a não ser apreciar a criação? Quando foi a última vez que notei a pessoa ao meu lado?
O tempo passa, o pássaro continua comendo nossas vísceras e, sem uma sociedade capaz de refletir sobre os pressupostos essenciais adequados, os lírios continuarão murchando sem percebermos...